- Alô?
- Oi! Não deslig...
Pronto, já era tarde. Ela reconhece a voz dele como se fosse um sopro bom e confortável. Ok, já passou. Pensava ela. E não, não passou. Ela sentia saudade da sua voz rouca e calma. Dos seus olhos quando pediam perdão. Da sua boca suja nos dias que eles faziam brigadeiro de panela. Hmmm, ela também sente saudades do seu brigadeiro. Sente saudade da sua camisa com a estampa "KEEP CALM, EU SOU SEU". Dos seus sorrisos desajeitados e tímidos. Mas os tempos são outros. Desde o inverno ela tenta esquecê-lo. Tenta. Não consegue. E ela fica se perguntando o que ele tem de tão especial. Na verdade, tudo.
Eles se conheceram no colégio. Ela era a menina tímida, que usava um suéter velho. Já ele... era o mais descolado. Usava as roupas dos momentos, tinha seu carro e ficava com a menina que escolhesse. Ela andava com suas amigas (poucas, mas que a aceitavam como ela era). Ele... andava com todos! E porque diabos ele queria justamente ela? Isso ela não sabia... Mas ela se apaixonou. O problema é que ele só queria ficar, e ela se iludiu.
Quando ele deixou-a sozinha, ela sofreu. Mas com o tempo foi superando. E hoje ele liga para ela o tempo todo. Já se passaram dois anos. Eles já se formaram e não se vêem mais. Porém, ele sente falta.
O telefone toca novamente.
- Olha, eu...
- Deixa eu falar com você, por favor! Não me julgue, espere eu terminar. - implorou com voz de arrependimento.
- Não demore.
- Naquela época eu não sabia o que fazia. Tinhas todas as meninas aos meus pés, e achei que você seria mais uma. Errei. Errei feio. Troquei você por algumas noites, mas não esqueço de você! Sempre fui acostumado com meninas mais descoladas, mas você me chamou atenção. Me desculpa, me dá mais uma chance?
- Não! - foi o não mais "sim" que já dissera em todos os tempos - Você me decepcionou, e não sinto sua falta.
- Tem certeza do que está dizendo?
- Sim.
Ele desligou o telefone. Ela, sem entender nada, deitou no sofá e chorou. Devia ser por causa da pressão da tamanha mentira que ela contou. Na verdade, ela queria não sentir mais nada por ele.
19 anos se passaram e ela foi demitida da empresa onde trabalhava. Ela era contadora de uma fábrica, mas alguns desentendimentos ocorreram e ela perdeu o emprego que era acostumada.
Em um dia de correria, ela estava em busca de um novo emprego, entrou em uma gráfica na qual uma anuncio grande e chamativo dizia: Precisa-se de contador com experiência. Essa era sua oportunidade. Entrou, e por um momento, pensou em voltar. Deu de cara com o rapaz, que há 19 anos, ela lutava para esquecer.
Mas que estranho, uma energia diferente no coração a chamou atenção. Ela parou na recepção e perguntou:
- Bom dia! A senhora poderia me informar o nome daquele rapaz? - ele acabara de passar sobre uma das portas no fundo da gráfica, que o levava ao segundo piso.
- Bom dia senhora! Esse senhor é o dono da Philsen, Jacob.
Ela congelou. Era ele. De verdade.
- Mais alguma informação, senhora? - disse a atendente, calma.
- É... na verdade, eu estou interessada no cargo de contadora. Li que vocês precisam de uma, e gostaria de deixar o meu currículo.
- Entraremos em contado assim que pudermos. Obrigada, e boa sorte!
- Obrigada, tchau!
Elizabeth saiu espantada. Era muita coincidência...
Passaram-se 4 dias e ela já tinha perdido a esperança de ser chamada. O telefone tocou. Ela levantou da cama quase que por 1 segundo e atendeu.
- Alô? - disse Elizabeth com voz de sono.
- Espero que não desligue dessa vez.
Ai meu Deus! Era ele. O homem que ela passou anos sonhando e arrependida pelo não que dera várias vezes.
- Quem fala? - era incrível a sua capacidade para mentiras.
- Jacob. Jacob Smith. Ainda se lembra de mim?
- Hmmm, acho que sim!
- Eu recebi o seu currículo ontem, e fiquei meio em dúvida se deveria ligar ou não. Normalmente que marca as entrevistas é a Emily, mas como é um caso especial...
- Obrigada! Mas, exatamente, me ligou por qual motivo?
- Li o seu currículo, e você tem uma ótima carreira... queria marcar uma entrevista para amanhã... Ficaria ruim para você?
- Não, amanhã está ótimo! Que horas?
- Às 14:00h. Tudo bem?
- O.k., perfeito! Até amanhã então.
- Não desliga... sinto saudades da sua voz!
- Hm, depois de tanto tempo? - Elizabeth disse com a voz falhada.
- Quando eu dizia que te amava, não era mentira. É claro que me relacionei com outras meninas durante esses 19 anos, mas nunca, nunca mesmo, esqueci de você!
- Olha, preciso desligar. Bom dia!
- Tchau.
Ela desligou e deitou sua cabeça no travesseiro e passou o dia todo imaginando os dois, em seu reencontro. O dia se passou, ela foi dormir. Quando acordou, resolveu assuntos pessoais e foi, ansiosa e nervosa, para a entrevista.
- Olá senhora Elizabeth Williams! O senhor Jacob está a sua espera em sua sala. Queira me acompanhar. - A atendente mostrava sua dedicação de forma clara e educada.
- Entre, por favor! - disse ele ao ouvir as três batidas na porta.
- Senhor Jacob, Elizabeth está aqui. Posso mandá-la entrar?
- Claro, por favor!
Entrou em sua sala com o coração nas mãos, coberta por nervosismo.
- Oi, tudo bem?
- Tudo! Sente-se. - ele a encarava de leve, e isso a encantava. - Lendo o seu currículo me lembrei de alguns momentos...
- É meio difícil não lembrar... Mas, vamos ao que interessa. - enquanto ele era claro, ela era muito objetiva.
- Vejo que você já me esqueceu.
- Procuro não lembrar do que me fez mau.
- Então é essa a lembrança que tens de mim?
- Sim, é essa. E espero que não me venha com nenhuma esperança.
- Não procuro pensar em você, é instantâneo. - disse ele, tentando acalmá-la.
- Olha, me desculpa a indelicadeza, mas vou me retirar.
Ela se levantou, enfurecida com a ousadia (que no fundo ela gostara) e abriu a porta. Ele correu, esbarrando nas pastas que estavam do lado da impressora, e a agarrou pelos braços.
- Não fuja novamente! Não percebe que o destino está querendo nos juntar?! Elizabeth, eu tenho certeza de que és a mulher da minha vida, e não quero perdê-la novamente.
Sem que ela pudesse responder, ele a beijou. Foi o momento mais esperado desde o tempo da escola. E ela? Ela simplesmente aceito casar com ele. Juntos, tiveram dois filhos. Hoje, Elizabeth é viúva. Mas dirige a empresa com orgulho e admite: valeu a pena esperar pelo amor da minha vida.
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